terça-feira, 5 de abril de 2011

Dia dos Namorados...


Era sábado, 12 de junho, dia dos namorados. Estava um dia cinza lindíssimo e um frio de tremer o queixo que três blusas não conseguiam conter.
Passei o dia todo no sofá, na frente da tv, aquelas propagandas românticas estavam me irritando já -- "Falsidade descabida essa coisa de comemorar o amor numa data só, vantagem apenas para donos de motéis e floriculturas." pensava eu enquanto mudava os canais da tv incessantemente tentando achar algum programa que não falasse da data.
A celebridade do momento ia tocar na minha balada preferida naquela noite, uma espécie de "noite dos solteiros" - desculpa para encalhados como eu se pegarem descompromissadamente na pista e no dia seguinte não sentirem vergonha por existir.
Metade da cidade confirmava que estaria nesse freak show da carência naquela noite, inclusive casais, tudo pela moça de pernas bonitas que estaria em cima da pick-up de som comandando aquela orgia patrocinada por muito Cosmopolitan, Absolute e Red Bull.
Minhas amigas me ligavam super empolgadas com a noite enquanto eu tentava achar uma forma convincente de dizer que preferia que me deixassem em casa com meus 7 potes de sorvetes de todas as cores.
Amigos de infância, amigos atuais, amigos de amigo, os que a gente só sai de balada e até gente que eu nem lembrava o nome mas não esquecia do gosto estaria la aquela noite, então, resolvi ir, afinal, comecei a pensar que só ia conseguir juntar tanta gente querida assim de novo quem sabe no meu enterro, isso se alguns não se perdessem até lá.
Então fui começar a me arrumar, mesmo com uma sensação estranha de que não deveria sair de casa aquele dia. Quando estava na porta de casa, pronta para sair, além de não encontrar as chaves, minha mãe começou a perguntar se eu queria mesmo sair naquela noite tão fria. Comecei a pensar se eu devia mesmo trocar minha noite de gorda-encalhada-depressiva na frente da tv com os potes de sorvete por álcool e beijos sem nome -- "BiiiiiiiiiBiiiiiiiiii!" a buzina interrompeu meus pensamentos:
-- Tchau mãe. - Gritei e entrei no carro com as minhas amigas.
A sorte estava lançada. Ai se eu pudesse voltar a esse momento, eu inventaria uma dor de barriga infernal, enfiaria o dedo na garganta e começaria a vomitar, começaria a dizer que estava tudo rodando, ativaria a chamada de emergencia do meu celular e fingiria que a vizinha da irmã da tia da amiga da minha vó tinha morrido e eu não poderia perder o velório dela por nada. Teria feito programa, ou cometido suicidio mas não entraria naquele lugar de novo, não naquela noite.

Logo na porta da balada, na fila que quase dobrava a esquina, os conhecidos se aproximavam com garrafas de vodka, cervejas, e todas as bebidas que fossem possíveis de se beber na garrafa ou em copos de plástico, claro, querendo já entrar alegre na casa e assim economizar uns trocados e vergonha na cara. Eu observava somente. As amigas das minhas amigas chegaram, aquelas amigas, sabe? Bonitas demais, interessantes e totalmente fúteis. Eu tentava puxar algum assunto bobo de três ou quatro frases trocadas apenas para que não falassem que eu estava com cara de anti-social que preferia ter ficado em casa e todo esse discurso moderninho. E aproximavam-se, homens, mulheres, arrumados, maloqueiros e todos se juntavam em volta de mim. Minhas amigas tentavam puxar assunto com as com as outras meninas do grupinho, eu ria e me apoiava na parede "A noite vai ser longa mesmo.".
Cocei os olhos com força e quando abri lá estava o William, meu amigo, parado na minha frente com os braços bem abertos e um sorriso debochado que só ele tem, com ele a Mayara, minha outra amiga, e duas meninas feias que eu não conhecia e nem dei atenção. Pronto, agora eu aguentaria a noite toda... Com esses dois por lá, pelo menos as risadas estavam garantidas.
Começou então a minha maratona de revezamento para tentar curtir a presença de tantas pessoas especiais que estavam naquele lugar, nesse dia, ou melhor, naquela noite.
A moça das pernas bonitas chegou, foi fácil saber, todo mundo começou a se empurrar, uma gritaria tomou conta do lugar. Minha nossa, ela era mais linda ainda pessoalmente. Minha amiga não deixou que ela subisse facilmente ao palco não, puxou-a, abraçou, beijou, parecia uma daquelas tietes do Menudo na década de 80, histérica, louca, quase infartando só porque a moça tinha 1 metro de pernas muito bem distribuídas. Então a coitada conseguiu se soltar dos braços dela e parou ali, bem na minha frente, eu não podia deixa-la passar, pedi um abraço. Ela me deu um abraço forte, gostoso, como se realmente não estivesse achando um saco todo esse assédio e se direcionou para a pick-up. Minha amiga não parava de tirar fotos, os flashes seguidos estavam me incomodando, então fui lá pra fora fumar e ver se tinha alguma mulher interessante por ali, sozinha, quem sabé fosse minha noite de sorte, não é mesmo?
E então, o grande momento chegou, o Will começou com uma brincadeira daquelas totalmente sem graça, que constrange as pessoas, tentando me convencer a beijar uma amiga dele, eu não queria. Não por ela, ou talvez até mesmo por ela, mas também porque estava tentando resistir a orgia dessa noite, estava desinteressada de coisas aparentemente sem futuro. Não sei explicar como ou porquê, talvez somente para ele parar de encher minha paciência ou podia ser o imbecil do meu cupido cego, burro e com péssima pontaria que estava lá para me foder de novo... Acabei beijando-a. Nossa, e aquele beijo? Senti como se minhas pernas não pertencessem mais ao meu corpo, a música ficou baixa de repente como que ao fundo, parecia que aquele abraço que eu tinha dado na moça famosa tinha me dado sorte, aberto minha alma, sei la, comecei a fazer mil suposições, criar teorias.
Que noite mágica! Aquele beijo não terminava mais. Frio? Que frio? Eu não sentia nada. Não sentia mais meus corpo, minhas mãos, não sentia nada. Parece que o tempo parou e vivi naquela noite durante muitos e muitos anos e, ao mesmo tempo, parece que eu pisquei e já era 8:00 horas da manhã. Meu Deus, oito horas da manhã. Aquele beijo chamou outro que implorou por outro e trouxe três mil com eles. Eu não conseguia desgrudar, não queria desgrudar. E assim fomos embora, eu só pedia pra ela vir pra minha casa, pra ela anotar meu telefone, pra ela me dar mais um e mais um e mais outro milhão de beijos.
Cheguei em casa com um sorriso de orelha a orelha, dormi como um anjo e já acordei pensando nela, torcendo para vê-la de novo, querendo conhecê-la mais e mais, decifrá-la todinha.



(continua...)

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